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Entenda que mudanças o 5G poderá trazer para o setor de saúde
As novas tecnologias, como internet das coisas, realidades aumentada e virtual, poderão ser empregadas para aumentar o engajamento com os pacientes e desenvolver novas maneiras de orientação e de tratamento.
Especialistas discutiram como o 5G impactará a medicina durante o segundo dia do 5G Saúde Conectada, evento promovido nos dias 11 e 12 de abril pela plataforma TI Inside. Os debates giraram em torno das melhorias que a nova tecnologia poderá proporcionar ao setor de saúde, incluindo a troca de informações em tempo real por equipes médicas, as cirurgias remotas e o uso da realidade virtual.
Estavam presentes Marco Bego, diretor executivo do Instituto de Radiologia do Hospital das ClÃnicas da USP, Caio Soares, presidente da Saúde Digital Brasil e Carolina da Costa, diretora-executiva de Educação, Pesquisa, Inovação e Saúde Digital do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Oportunidades do 5G
Durante sua palestra, Bego enumerou algumas das oportunidades trazidas pela tecnologia 5G à medicina. Dentre elas, está a internet das coisas (IoT). "O 5G traz um aumento de conectividade, de forma que mais dispositivos possam comunicar e interagir entre si, além de serem monitorados e controlados remotamente", diz o médico.
Outras possibilidades são as realidades aumentada e virtual, que poderão ser empregadas para aumentar o engajamento com os pacientes e desenvolver novas maneiras de orientação e de tratamento. Aliado a isso, o 5G facilitará a gestão de dados e potencializará a computação em borda, de modo que as aplicações ficarão mais próximas dos usuários e das fontes de dados, podendo haver computação em tempo real.
A quinta geração das redes móveis também facilitará o monitoramento remoto dos pacientes por meio de wearables. Ela será necessária, ainda, para o emprego de inteligência artificial (IA) e machine learning com fins de diagnóstico e tratamento.
Na perspectiva de Soares, o 5G impulsionará o uso de tecnologias de telessaúde, como a transmissão de vÃdeo de alta definição para consultas médicas remotas e a monitorização remota de pacientes em tempo real. Além disso, permitirá a realização de cirurgias remotas futuramente, nas quais o cirurgião operará o paciente à distância, utilizando robôs cirúrgicos e realidade virtual.
Os pacientes também poderão ser monitorizados continuamente e em tempo real, por meio de dispositivos médicos conectados, como monitores cardÃacos ou glicosÃmetros. Assim, os profissionais de saúde poderão reagir rapidamente à s variações clÃnicas do paciente.
"Um ponto crucial é que o 5G pode permitir a transmissão de grandes quantidades de dados de saúde em tempo real, incluindo imagens, para ajudar os médicos a fazerem diagnósticos mais rápidos, precisos e planos de tratamento personalizados. Isso pode gerar impactos na saúde pública durante epidemias, por exemplo, aumentando a vigilância das populações vulneráveis", complementa o profissional.
A tecnologia também trará a possibilidade de criação de ambientes de realidade aumentada e virtual, o que pode impactar a formação de médicos e profissionais de saúde. Sobre o tema da capacitação, Costa comenta: "Antes de mais nada, é preciso capacitar o atendimento, ou seja, usar a tecnologia para que os médicos possam fornecer, com precisão, laudos e diagnósticos. Isso tudo dentro de uma lógica de atenção primária. Embora a gente se encante com a perspectiva da cirurgia robótica, a grande agenda de melhoria da saúde pública passa, hoje, por atenção primária".
Soares também contribuiu para a discussão fornecendo exemplos de dispositivos habilitados pela tecnologia 5G: "Já vemos algumas aplicações, como, por exemplo, relógios que fazem o monitoramento cardÃaco e conseguem identificar variações da frequência do coração", explica. Os dispositivos, então, emitem um alerta para a central médica e, assim, pode-se antecipar o atendimento a um paciente com uma arritmia cardÃaca.
"Outra aplicação são as câmeras que conseguem, por padrões, identificar alguns desvios de comportamento e, à s vezes, até se tornar ferramentas de apoio ao diagnóstico. Um exemplo disso são as câmeras que identificam com alta precisão se o paciente apresenta um aumento de temperatura ou indÃcio de inflamação", acrescenta Soares.
Outros casos de uso citados pelos palestrantes foram o ultrassom remoto (um dispositivo portátil que é manuseado por um operador enquanto um médico especializado o orienta remotamente e fornece o diagnóstico) e a operação remota de máquinas de ressonância e tomografia. O 5G também permite a realização de análises de imagem por IA.
Desafios
Os especialistas apontaram que um dos maiores desafios em relação ao 5G é a falta de infraestrutura de grande parte das instituições de saúde no Brasil. Além disso, existem questões regulatórias a serem definidas. "Os Conselhos Regional e Federal de Medicina terão um papel na garantia da proteção dos pacientes e da manutenção do código de ética médico para atendimentos não-presenciais", comenta Soares.
Outros desafios são a mudança cultural dos pacientes e profissionais da saúde, que muitas vezes são avessos aos atendimentos remotos, e a garantia da proteção de dados sensÃveis dos pacientes.
Os palestrantes concordam que, por enquanto, o foco do uso do 5G na saúde deve estar na melhoria do atendimento primário. "Hoje, a nossa expectativa com 5g é testar casos de uso. Por exemplo, testar o tráfego de imagens. Talvez no futuro seja possÃvel operar um robô à distância, mas por enquanto não temos nem condições de segurança cibernética ou médica", pontua Bego.